Caracterizada pela necessidade de consumir grandes quantidades de alimentos, a compulsão alimentar acomete 5% da população mundial. Trata-se de um distúrbio alimentar, assim como a bulimia e anorexia. E pode trazer consequências para a saúde. Estima-se que, durante a pandemia, os casos tenham aumentado ainda mais.
A psiquiatra Telma Trigo explica que, na compulsão, a pessoa é capaz de ingerir uma quantidade de alimentos muito maior do que o normal. “Ela deixa de ter controle sobre isso, não consegue parar. Não há comportamento compensatório. Isto é, não é seguido de vômitos, episódios de exercícios intensos ou jejuns. E este comportamento é repetitivo, ocorrendo geralmente uma vez por semana”.
A forma de se alimentar também pode ter algumas características. “A pessoa come mais rapidamente do que o normal; ingere alimentos até se sentir desconfortavelmente cheio; se alimenta de grandes quantidades de comida mesmo sem fome; costuma comer sozinha por vergonha do quanto está ingerindo; e sente frustração e angústia antes do episódio”.
Ela explica o motivo de, durante a pandemia, os casos terem aumentado. “Em momentos de estresse e mudanças de vida, nossos cérebros e corpos são estimulados, exigidos a se adaptarem. Por isso há uma grande chance de estes sintomas surgirem ou piorarem em quem já tem a compulsão alimentar. O período de pandemia nos demandou força, além disso, trouxe um medo muito impactante para todos. A falta de liberdade, de convívio com pessoas que amamos, de exercícios físicos pioram a situação. Não é surpresa que muitas dificuldades humanas se intensifiquem”.

Como lidar com a compulsão alimentar?
A especialista adiciona que a pessoa acometida pela compulsão alimentar pode apresentar alguns sintomas. “Ela costuma ficar mais calada, ter o que chamamos de ‘pavio curto’, ser mais irritadiça. Além disso, apresenta alterações no sono, de peso e mudanças no comportamento alimentar quando está a mesa com outras pessoas. Ela evita bastante de se sentar com os outros para comer”.
A compulsão alimentar deve ser investigada e confirmada por um médico psiquiatra. “É preciso uma análise detalhada do histórico de vida da pessoa. Além disso, ele investigará o histórico atual, inclusive com exames. É preciso entender a história de comportamento do cliente, bem como o familiar e social. Compreender ainda se existem fatores genéticos herdados e como eles atuam no dia a dia dessa pessoa”.
Telma acrescenta que é muito importante observar vários aspectos quando falamos de compulsão alimentar. “Muitas vezes temos quadros depressivos, de ansiedade, bipolaridade. Ou ainda características de personalidade que aumentam a chance de os sintomas de compulsão aparecerem ou até mesmo se tornam parte do quadro. E a diferenciação é importante, pois os tratamentos são diversos e, caso sejam feitos de forma inadequada, podem piorar o quadro”.
Para tratamento, muitas técnicas podem ser utilizadas. “Há medicamentos, treinos cerebrais – que envolvem modulação respiratória e cardíaca. Bem como a mindfulness, abordagens biológicas e terapias que reestruturam a forma de pensar e sentir do cliente. Nosso cérebro é um órgão impressionante e complexo. Ele merece cuidado, carinho assim como o resto do nosso corpo. Quando cuidamos dele, podemos perceber que o destino está mais em nossas mãos do que imaginamos”.