Quando nos relacionamos, buscamos estabelecer uma ligação. Em busca da felicidade e do prazer, o mais comum em nossa sociedade é o envolvimento a dois. Mas, o conceito de relacionamento aberto tem ganhado cada vez mais adeptos. Mas será que é possível ter uma relação aberta e saudável? O Mulher Conectada conversou com a psicóloga e sexóloga Sônia Eustáquia sobre o tema.
Ela explica que entrar em um relacionamento aberto é uma decisão difícil para um casal e raramente o consenso chega facilmente. “Toda a estrutura de regras veladas ou declaradas no início, terão que ser ressignificadas. Trata-se de uma decisão séria e de quebra de muitos valores do casal e de tudo que viveram desde a infância até o momento”.
A psicóloga adiciona que no Brasil vivemos uma constituição com o regime monogâmico. “Além disso, existem muitos valores familiares e religiosos que presam a fidelidade como mandamento. Abrir mão disso exige muita coragem e desprendimento de valores. Isso porque deverão ser feitas muitas mudanças internas”.
Limites deverão ser ressignificados. “Bem como o sentimento de culpa. Ademais, será preciso um desapego aos vínculos ou pelo menos um ‘alargamento’ do que eles representam. Porque num relacionamento aberto há a inclusão de novos parceiros sexuais juntos ou separadamente bem como relacionamentos românticos externos”.
Segundo a especialista, para o sucesso do poliamor não existem regras nem conselhos. Há quem encontre nesse tipo de relação a felicidade. “Pela liberdade que ele propõe, dentre uma quantidade enorme de emoções que priorizam a realização de desejos e o desfrutar deles. Sem censura, sem culpa e apenas com vínculos momentâneos”.
Ademais, ela adiciona que não existe fórmula de relacionamento monogâmico ideal. “Ele se adequa conforme as personalidades envolvidas. Normalmente, prezam muito a lealdade e a fidelidade. A obediência aos combinados e compromissos feitos ao longo da relação”.

Porque o relacionamento aberto tem ganhado mais adeptos?
Sônia explica que o relacionamento aberto tem ganhado mais adeptos por uma questão de estilo de vida e personalidade. “Nesses casos as pessoas preferem a extrema liberdade de expressão dos desejos e a realização dos mesmos. É bom lembrar que a fidelidade no amor não é um dom natural; nem o nosso desejo por uma só pessoa”.
Se não nascemos fieis, e muito menos com o desejo direcionado à uma única pessoa, a fidelidade passa a ser uma escolha individua. “Ela está mais próxima ao princípio da realidade do que ao princípio do prazer. Que são conceitos também da psicanálise. É o desenvolvimento saudável que vai amadurecendo e orientando a pessoa para as suas escolhas”.
A especialista adiciona que, desses conceitos, pode nascer a pergunta: seriam imaturas afetivamente as pessoas que fazem a escolha do poliamor? Ela explica que não. “A forma de agir sexualmente no mundo é completamente subjetiva e deverá sempre respeitar o espaço da liberdade do outro. Por isso a importância do consenso antes da prática”.
Ela elucida que triste é ver quando não há um consenso respaldando a conduta do casal. “E que só um deles aceita o relacionamento aberto para não perder o parceiro ou parceira. Certamente esse não consegue se sentir livre e feliz, enquanto o outro está mais tranquilo e desfrutando da liberdade”.
É possível ter um relacionamento aberto e saudável?
Para que o relacionamento aberto seja saudável, é preciso ser profundamente consensual. E que existem relacionamentos que começam aberto e outros que se tornam com o tempo. “Eu já vi pessoas que retornam do casamento aberto ou poliamor por questões religiosas. A vida é muito dinâmica, e não tem como separar as instâncias bio-psico-social; caso uma delas desequilibre, toda a estrutura da união também se desequilibra”.
O relacionamento pode começar monogâmico e se tornar aberto depois por solicitação ou pressão de um dos cônjuges ou até mesmo naturalmente. “A subjetividade humana é maravilhosa e cada um se manifesta singularmente, também em sua sexualidade. Fazer isso se tornar consensual é que vai demandar energia e esforço, de ambos os parceiros ou de um deles mais especificamente”.
Como conversar com o parceiro a respeito disso?
Por propor uma “quebra de contrato” de monogamia, é preciso uma conversa antes de decidir tornar o relacionamento aberto. “Ele cria alternativas nas quais o casal possa ter relações paralelas, sem que isso seja visto e sentido como traição. O novo contrato deve ser debatido pelo casal até ficarem bem claras as novas regras e alternativas. É bom também fazerem uma lista de prós e contras dos novos combinados. As mudanças só devem iniciar depois do consenso claramente formado”.
Em conclusão, ela explica que a questão não deve se transformar em problema que sufoca, desrespeita, bloqueia, gera ciúmes e impõe regras que não priorizam o comum acordo. “Vontade em desarmonia é ruim para o casal. O que determina o que é certo e errado se resume em consenso. Se ele estiver presente, é o que basta para que a busca pelo prazer seja positiva”.
Respostas de 4
Muito interessante essa temática e super atual. Acredito que o relacionamento aberto depende de casal para casal e a questão do consenso é fundamental. Bela matéria.
Boa semana!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia
Eu não conseguiria viver um relacionamento aberto porque prezo muito a fidelidade, mas cada casal é um casal. Precisa ter consenso de ambas as partes.
Big Beijos,
Lulu on the sky
É muito cultural pra gente a monogamia, né? Eu também não conseguiria.
Abraços, Lu!