O efeito sanfona, fenômeno que acomete muitas pessoas após trajetórias de emagrecimento, continua sendo um desafio frustrante. Estudos recentes publicados na Nature oferecem novas explicações, relacionando o reganho de peso às alterações epigenéticas nas células de gordura, trazendo novas perspectivas para entender o problema e criar abordagens mais eficazes.
O que é o efeito sanfona?
O termo descreve o ciclo de perda e ganho de peso, vivenciado por cerca de 80% das pessoas que seguem dietas restritivas. Apesar de ser atribuído frequentemente a fatores como alimentação desequilibrada ou sedentarismo, o efeito sanfona também pode ser explicado por mecanismos celulares que criam uma “memória” de obesidade no corpo.
De acordo com a endocrinologista Alessandra Rascovski, da clínica Atma Soma, a obesidade provoca mudanças epigenéticas no núcleo das células de gordura. “Essas alterações deixam uma espécie de memória celular, que facilita o retorno ao estado anterior. As células de ex-obesos crescem mais rapidamente quando há um consumo calórico elevado, em comparação com pessoas que nunca tiveram obesidade”, explica a especialista.
Epigenética: a chave para o entendimento do efeito sanfona
A epigenética, campo que estuda as mudanças na expressão dos genes sem alterar a sequência do DNA, revela que fatores como dieta, estresse e estilo de vida podem modificar como nossos genes se comportam.
Um estudo realizado no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, observou esse processo em camundongos. Após perderem peso por meio de dieta, os animais que apresentavam marcadores epigenéticos ligados à obesidade recuperaram o peso mais rapidamente ao retornar a uma dieta rica em gordura.
Evidências semelhantes foram encontradas em humanos, em biópsias de tecido adiposo de pacientes que realizaram cirurgias bariátricas. Essas alterações epigenéticas, detectadas antes do procedimento e analisadas dois anos após a cirurgia, corroboram a ideia de que a obesidade deixa uma marca celular de longa duração.
Perspectivas para o futuro
Os avanços no campo da epigenética abrem novas possibilidades para tratar o efeito sanfona. Pesquisas em terapias epigenéticas, como inibidores de enzimas específicas e moduladores de RNA, prometem agir diretamente na raiz do problema, oferecendo tratamentos que promovam mudanças metabólicas mais sustentáveis.
“Estamos apenas começando a explorar o potencial dessas descobertas, mas acredito que o futuro trará intervenções mais eficazes para ajudar pacientes a evitar o ciclo de perda e ganho de peso”, avalia Alessandra Rascovski.
Como esses avanços podem ajudar?
Além de trazer compreensão científica ao fenômeno, as pesquisas também desafiam abordagens tradicionais ao reganho de peso. Tratamentos que consideram a memória celular podem proporcionar maior estabilidade metabólica, reduzindo a recorrência do efeito sanfona.
Essas descobertas representam um passo importante para quem enfrenta o desafio do reganho de peso, mostrando que a ciência está cada vez mais próxima de soluções eficazes para promover uma saúde metabólica mais equilibrada.
