Você já parou para refletir no quanto tem a agradecer? Vivendo no automático, as vezes fica difícil lembrar que, apesar de dias difíceis como os que vivemos agora, coisas boas acontecem o tempo todo. Praticar a gratidão é importante para o nosso bem estar. Mas, para conseguir tornar disso um hábito, é preciso estar disposto. Para saber como ser uma pessoa grata, conversei com a psicóloga Renata Alvarenga. Ela é coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Pitágoras.
Ela explica que é difícil definir gratidão, pois o termo permite muitas classificações. “Tem sido conceituada como uma emoção, atitude, virtude moral, bem como um hábito e até mesmo um traço de personalidade. A gratidão é um sentimento de admiração, reconhecimento e apreço pela vida”.
A gratidão seria uma das emoções morais que ligam as pessoas à sociedade como um todo. “Ou seja, quando sentimos gratidão, seja ela em relação ao outro ou a nós mesmos, estamos entregando-nos ao prazer. A literatura indica que o sentimento de gratidão depende da constatação de que algo bom aconteceu e de que alguém foi responsável por isso”.

Mesmo que não seja necessariamente direcionada a uma pessoa, ela explica que a gratidão permite ao indivíduo reconhecer o exterior e perceber o contexto no qual viver. “Isso faz com que ele possa ser grato a algo tão vago quanto o universo, por exemplo. Trata-se de uma resposta a uma ação benevolente”.
A psicóloga adiciona que ser grato, no entanto, é atestar que algo vital foi recebido. “Que houve acolhimento de nosso desamparo e que em alguma medida, cuidaram de nós, nos alimentaram na alma e no corpo. Passamos a reconhecer esse ato de doação com este sentimento de gratidão pelo acolhimento de ser visto, escutado verdadeiramente”.
Os benefícios da gratidão
Renata adiciona que por ser uma emoção positiva, a gratidão tem um caráter benéfico e adaptativo. “Na medida que amplia habilidades emocionais e gera oportunidade de construção de recursos pessoais, sejam psicológicos, sociais ou intelectuais, que serão de grande valia em momentos de estresse”.
O primeiro benefício da gratidão, segundo ela, é a necessidade que sentimos de retribuir, recompensar e agradecer aquele que nos ajudou. “Isso gera, então, vínculos sociais e reciprocidade. Em uma série de estudos experimentais, verificou-se que esse sentimento aumentou a resiliência, a saúde física e a qualidade da vida diária. Pessoas que se sentem regularmente gratas aos outros tendem a se sentir amadas e cuidadas”.
Como praticar a gratidão?
Ninguém se torna uma pessoa totalmente grata do dia para a noite. É preciso que a prática se torne um hábito. A psicóloga lista uma série de coisas que podemos fazer para que o sentimento entre em nossa rotina.
– “Agradecer, reconhecer e valorizar boas práticas. Ou seja, ter a capacidade de refletir sobre o lado positivo das ações e acontecimentos”.
– “Crie uma lista de gratidão. Nela, você deve enumerar as coisas pelas quais sente-se grata”.
– “Outro tipo de intervenção é a contemplação, esse exercício consiste na pessoa pensar sobre o que se sente grata de um modo geral”
– “Há também a expressão comportamental. Esse exercício consiste na verbalização de gratidão a alguém especial”.
A especialista acrescenta ainda que vivemos em dias angustiados, diante da pandemia e de todas as consequências envolvidas, por isso a gratidão em pequenas coisas se torna importante. “Precisamos contemplar pequenos gestos, reconhecer coisas não palpáveis, como amizade, sorriso, um pôr do sol, uma mensagem acolhedora. Ser grato pela manhã, pela família bem como pelas conquistas, pequenas evoluções”.
Quando os momentos prazer estiverem sendo raros, talvez seja o momento de exercitar a gratidão por estar vivo, com desejo de viver e de investir no mundo. “Conseguir perceber a grandeza de mais um dia de vida, muda a perspectiva de enxergar somente as tragédias. Ademais, ser grato é perceber os ‘alívios’, as ‘brechas’ que nos tiram da rotina louca e estressante que por vezes nos envolvemos e nos consome”.
Em conclusão, ela reforça que praticar a gratidão é um exercício diário de conectar com o outro, respeitar, agradecer. “Para receber, é preciso reconhecer nossa incompletude, nosso vazio, que precisamos do outro, e, então, voltar o olhar ao entorno com seus inesperados eventos”.