Literatura erótica: gênero ganha força entre as mulheres

literatura erótica

Falar sobre o prazer feminino ainda é algo que gera certo incômodo em nossa sociedade. Antes, o tema era quase proibido e, por isso, a literatura erótica mal chegava a ser vendida nas livrarias. Mas, atualmente, esse gênero vem ganhando força e contribuindo para soltar as amarras acerca do que antes era quase considerado secreto. 

A literatura erótica tem, até mesmo, saído dos livros e ocupado os streamings, seja na categoria soft porn, ou em produções eróticas. A Netflix, por exemplo, lançou recentemente o filme Sex/Life, trama que possui um roteiro pra lá de sexy.

Para a sexóloga Sônia Eustáquia, o sucesso desse gênero se dá, justamente, pelo fato de as mulheres perceberam que não há motivo para vergonha. “Já existiam livros que falavam de sexo, mas depois de ‘50 tons de cinza’, as mulheres passaram a assumir que gostam de sexo nos livros. E em alguns casos, até mais que o sexo propriamente dito”.

Ela adiciona que algumas autoras estão criando o que tem sido chamado de ‘pornografia feminista’. “Só para mulheres, com seu próprio olhar e usando sua percepção. A principal busca é a de contar uma história e, dentro delas, os personagens vivenciarem o sexo. Ou seja, o romântico e o erótico juntos. Tudo isso dentro do cotidiano da maioria das mulheres”.

Sônia acrescenta que mulheres escrevendo para mulheres pode ser um caminho importante para o empoderamento feminino. “Isso porque elas acabam por encontrar espaço para quebrar as barreiras historicamente criadas. Muito além de despertar desejos e fantasias, o conteúdo sexual da literatura erótica pode passar a ser uma forma de libertação do prazer feminino”.

Isso porque, segundo ela, a literatura erótica ajuda as mulheres a redescobrir desejos. “E se liberar. É quase que uma emancipação. A mulher nunca foi motivada a fazer sexo, a pensar nisso. Mas através dos livros, elas podem viajar por vários universos, se encontrar com elas mesmas e com suas possibilidades de prazer”.

Foto: Canva PRO

A importância da literatura erótica

A sexóloga adiciona que a literatura erótica se torna ainda mais importante quando ela transcende da leitura para a prática sexual mais prazerosa. “E isso inclui o companheiro(a) da mulher. Quantas de nós não conseguem sentir desejo, ou nem mesmo experimentaram um orgasmo? As fantasias e fetiches eróticos variam de mulher para mulher, mas geralmente é pelo sexo mais bruto e selvagem. Embora exista também leitoras românticas. O artifício essencial para todas, porém, é o romance, a trama que envolve o erotismo”.

Ela explica que é importante o elemento erótico, mas o que prende mesmo a mulher em um livro é como isso é edificado. “As cenas eróticas são  o ‘tempero’. A literatura erótica não é voltada apenas para o público feminino porque os casais também leem junto e gostam muito. O sucesso da trilogia de 50 tons de Cinza ajudou muito o mercado de literatura erótica, que antes era elitista e segregador”. 

Segundo ela, o mercado tem aberto espaço aos autores nacionais embora ainda haja preconceito com o gênero. “Vejo, porém, que isso tem diminuído e a cada dia os temas relacionados à sexualidade tem aumentado. Seja em livros ou pela internet. Considero a literatura erótica uma forma boa para responder essa demanda da sociedade: A busca da libertação e emancipação da mulher para uma sexualidade plena, indo atrás e se responsabilizando pelo próprio prazer sem vergonha ou culpa”.

Quem escreve literatura erótica?

Eu, claro, foi atrás de algumas autoras que produzem esse tipo de livro. Uma delas é a Aretha Guedes, que já lançou 27 títulos desse gênero. Para ela, sexo é um tabu muito grande, principalmente quando relacionado a sexualidade feminina. “Ainda é um assunto proibido para muitas pessoas, mas as mulheres estão cada vez mais se libertando, assumindo o que gostam de ler (e escrever) sem ter medo”.

Ela adiciona que um de seus livros que mais fazem sucesso é o “O Mundo do CEO”, lançado pelo Grupo Editorial Portal. As pessoas reclamam muito dele, mas adoram ler. A obra traz a história de um clube exclusivo para milionários, localizado em um prédio, no qual cada andar oferece um tipo diferente de entretenimento para os seus sócios, dos mais inocentes aos mais eróticos”.

Já a escritora Amanda Sampaio, atribui o sucesso da literatura erótica ao fato de muitas mulheres tomarem aquela história como sua. “Quem não gostaria de vivenciar um romance de tirar o fôlego? Não é fácil escrever para outras mulheres e desconstruir certos temas. Mas, com o passar do tempo, estamos conseguindo mais espaço de fala no mundo da literatura e mostrando, através dos livros, mulheres empoderadas e bem resolvidas ou que estão se descobrindo pelo caminho”.

Seu público é 99% feminino. “Estou sempre me comunicando com todas as minhas leitoras. Muitas compartilham suas vidas e fantasias sexuais, que são veladas e não realizadas em casa”, explica a escritora que, em breve, lançará mais um romance, o “Aliança por Contrato”, através do Grupo Editorial Portal.

Foto: Canva PRO

Fugindo do clichê

Para a escritora Ynglidis Farias, ou Yni, a literatura erótica remodelou o clichê para se encaixar ao tempo atual. “Como mulher, eu mesma me sinto representada nas minhas histórias. Sempre gosto de mostrar empoderamento e passar para os leitores como nós mulheres podemos conquistar o que queremos”, reforça a autora de ‘Sr. Cínico’.

Por fim, a escritora D. Valenti reforça que os livros não precisam mais ficar escondidos embaixo do colchão. “Era o que acontecia antes. Esse gênero era um prazer marginal. Hoje, apesar de os olhares de censura ainda existirem, podemos consumir livremente qualquer tipo de leitura. É a mulher tomando posse, de fato, de um direito legítimo de escolha que, de certa forma, em gerações passadas, desconhecia ter”, mostra a escritora de ‘O Pecado de Dmitry’.

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