Fenômeno externa as dificuldades que temos em aceitar nossa autoimagem

As chamadas de vídeo tem sido frequentes em tempos pandêmicos. Com a necessidade de isolamento social, muitas pessoas passaram a trabalhar de casa e a se reunir através da tela. Isso gerou um encontro quase que diário com a própria imagem, coisa que muitas pessoas não estavam acostumadas. Como consequência disso, surgiu o chamado “Zoom Boom” que, de acordo com especialistas, trata-se do descontentamento com a própria aparência nas videochamadas, acarretando na busca demasiada por cirurgias plásticas.
O cirurgião plástico Mauro Speranzini explica que o Zoom Boom tem tornado as pessoas mais críticas e observadoras dos próprios defeitos e dos sinais do envelhecimento. “Em meu consultório, por exemplo, as pacientes tem chegado com o desejo de ficarem mais bonitos. Observo que é uma questão de autoestima. Além da vontade de aparentar mais jovem e até aproveitar a diminuição do contato social para ter um pós-operatório mais tranquilo”.
Ele adiciona que é indispensável que o cirurgião saiba compreender se a motivação do paciente é justificável, ou se há ali uma expectativa inalcançável. “Porque nesses casos, pode ser necessário uma ajuda psicológica. Ademais, a dica mais importante é saber sobre a formação, qualificação e experiência do médico que vai realizar o procedimento. O profissional habilitado pra isso tem que ser sempre um cirurgião plástico com a formação específica para a área que o paciente deseja operar”.
Zoom Boom: quais os limites?
O médico e psicólogo Roberto Debski explica que a insatisfação com a própria imagem é algo antigo. “Um dos domínios da saúde psicológica está relacionado a aparência e autoimagem, sentimentos positivos e negativos, bem como autoestima, aprendizagem, além de memória e concentração. As videochamadas ressaltam as características faciais, e consequentemente, os detalhes das imperfeições. Isso traz descontentamento e aumenta a busca pela correção dessas características indesejadas, que são os tratamentos estéticos e cirurgias plásticas, dentre outros”.
Se a pessoa focar, exclusivamente, nos possíveis defeitos, esse descontentamento poderá trazer consequências. “Pode desencadear ansiedade, medo de se expor e uma insegurança que pode evoluir para um quadro depressivo. Existem condições prévias que podem favorecer esse estado emocional, como cobranças internas e externas e equilíbrio emocional para lidar com essas questões. Além de transtornos de imagem corporais, ou transtornos dismórficos, que alteram a percepção de si próprio, gerando sofrimento pela autoimagem percebida como inadequada”.
Limites na busca da imagem perfeita
Debski explica que a vida e a saúde são um todo. “Cuidar do corpo, da mente, dos relacionamentos, da espiritualidade, assim como da autoimagem, deveria ser algo comum a todos nós. Devemos cuidar dela para nos sentirmos bem conosco e em nossos relacionamentos, porém isso não deve se transformar em uma obsessão ou obediência a padrões inatingíveis, muito menos em um fator de adoecimento psicológico”.
Segundo o especialista, o limite deveria ser o caminho do meio. “Do equilíbrio entre corpo e mente, a percepção de que, embora não sejamos perfeitos, devemos estar bem, primeiramente, conosco, para então poder nos relacionar satisfatoriamente com os outros”.
Como evitar o Zoom Boom?
O psicólogo dá dicas de como uma pessoa pode evitar o Zoom Boom e se sentir bem com a própria imagem.
– Cuide de sua saúde física, emocional, se nutra saudavelmente, aceite em sua vida somente o que for saudável.
– Mantenha o foco em tudo o que for saudável. Desde alimentação a notícias, leituras e relacionamentos
– Priorize você em primeiro lugar, isso não é egoísmo, é amor próprio
– Não é necessário seguir cegamente padrões impostos por outras pessoas, isso não define quem somos
– Se ame, aprenda a estar bem consigo mesma e assim terá muito o que oferecer a você própria e aos outros, aos seus relacionamentos, à sociedade e à vida.